quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Portugal visto por Lobo Antunes


Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida.

Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda
compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.

Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos,
culpamos logo os governos.

Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para
nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos,
protestamos.

Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico
silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias
Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não
esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos,
que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não
estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto
da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.

Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam
honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns
sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.

O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O
senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por
pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda
piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a
meter os beneméritos em tribunal.
Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.

Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá
decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o
estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo

que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa
interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos,
gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.

As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem,
penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de
enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas,
ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas
passaremos semdificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão
feia. Para a Batalha.

Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de
pacotilha com que os livros de História nos enganaram.
Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja
sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha
de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca
vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão
presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor
Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.

Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no
Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.

Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás,
era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do
Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos
Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por
favor deixem de pecar.

Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E
tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este
solzinho.

Agradeçam a Linha Branca.

Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.

Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a
aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar
aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a
alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não
comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo

e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha,
e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.

Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e,
enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade,
a Academia Francesa.
Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os
ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?

O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem,
não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que
ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma
que os processos importantes em tribunal a indignação há-de,
fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de
litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos,
como é nossa obrigação, felizes.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma das razões da crise

"Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos:
Podem todos passar a dedicar-se à agricultura, porque António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".
E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."



‎"Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos:
Podem todos passar a dedicar-se à agricultura, porque António Costa, em menos de 3 m...inutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".

 E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
 
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!

 A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma.
 
A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos.
 
E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


 A VERDADE NUA E CRUA... 

ANGOLANOS - SÃO TÃO POBRES, QUE SÓ TÊM DINHEIRO..... by Edson Vieira Dias Neto

  
  
Realidade, triste... SÃO TÃO POBRES, QUE SÓ TÊM DINHEIRO...  by Edson Vieira Dias Neto (adaptado de um texto de Cristovam Buarque que assenta que nem uma luva a esta Angola, ainda em plena "Acumulação Capitalista Primitiva" )

"Em nenhum outro país os ricos demonstram mais ostentação que em Angola. Apesar disso, os Angolanos ricos são pobres. São pobres porque compram sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos autocarros e candongueiros do subúrbio. E, às vezes, são assaltados, sequestrados, abusados e violentados no trânsito. Presenteiam belos carros a seus filhos e não voltam a dormir tranqüilos enquanto eles não chegam à casa. Pagam fortunas para construir modernas mansões, desenhadas por arquitetos de renome, e são obrigados a escondê-las atrás de muralhas, como se vivessem nos tempos dos castelos medievais, dependendo de guardas que se revezam em turnos. 

Os ricos angolanos, usufruem privadamente tudo o que a riqueza lhes oferece, mas vivem encalacrados na pobreza social. Na sexta-feira, saem de noite para jantar em restaurantes tão caros que os ricos da Europa não conseguiriam freqüentar, mas perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os olhos pedindo um pouco de pão; ou são obrigados a restaurantes fechados, cercados e protegidos por policiais privados. Quando terminam de comer escondidos, são obrigados a tomar o carro à porta, trazido por um manobrista, sem o prazer de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro, depois continuar até um bar para conversar sobre o que viram. Mesmo assim, não é raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar, ou depois, na estrada a caminho de casa. Felizmente isso nem sempre acontece, mas certamente, a viagem é um susto durante todo o caminho. E, às vezes, o sobressalto continua, mesmo dentro de casa.

Os ricos Angolanos são pobres de tanto medo. Por mais riquezas que acumulem no presente, são pobres na falta de segurança para usufruir o patrimônio no futuro. E vivem no susto permanente diante das incertezas em que os filhos crescerão. 
Os ricos angolanos continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurança e ineficiência. No lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte considerável do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar perdas. 
Por causa da pobreza ao redor, os angolanos ricos vivem um paradoxo: para ficarem mais ricos têm de perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade hostil e ineficiente.

Quando viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedarão serão vistos como assassinos de crianças na lunda, destruidores da Floresta do maiombe em Cabinda, usurpadores da maior concentração de renda do planeta, portadores de malária, de paludismo e de filaria.. São ricos empobrecidos pela vergonha que sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros.
Na verdade, a maior pobreza dos ricos angolanos, está na incapacidade de verem a riqueza que há nos pobres. A pobreza de visão dos ricos impediu também de verem a riqueza que há na cabeça de um povo educado. Ao longo de toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a educação do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos equipamentos e não encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que não sabem ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem construir um novo país que beneficie a todos. 

Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados. Para poderem usar os seus caros automóveis, os ricos construíram viadutos com dinheiro de colocar água e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar água mineral, se protegiam das doenças dos pobres. Esqueceram-se de que precisam desses pobres e não podem contar com eles todos os dias e com toda saúde, porque eles (os pobres) vivem sem água e sem esgoto. Montam modernos hospitais, mas tem dificuldades em evitar infecções porque os pobres trazem de casa os germes que os contaminam. Com a pobreza de achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construíram um país doente e vivem no meio da doença. 
Há um grave quadro de pobreza entre os ricos angolanos. E esta pobreza é tão grave que a maior parte deles não percebe. Por isso a pobreza de espírito tem sido o maior inspirador das decisões governamentais das pobres ricas ?elites? angolanas. 

Se percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos cérebros dos pobres, os ricos angolanos, poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direcção aos interesses de nossas massas populares. Liberariam a terra para os trabalhadores rurais, realizariam um programa de construção de casas e implantação de redes de água e esgoto, contratariam centenas de milhares de professores e colocariam o povo para produzir para o próprio povo. Esta seria uma decisão que enriqueceria ANGOLA INTEIRA - os pobres que sairiam da pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurança e da insensatez.
Mas isso é esperar demais. Os ricos são tão pobres que não percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas". 

Adaptado de um texto de Cristóvam Buarque -- KALIFADO DE PALMELA                            



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013




 
MUITO SÉRIO E GRAVE.

 
É preciso que a mensagem passe, contra os privilégios absurdos de alguns, que se estão nas tintas para a Crise (dos outros)...


António Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados: Austeridade e privilégios, no Jornal de Notícias. Excertos:
 
«[...] O primeiro-ministro, se ainda possui alguma réstia de dignidade e de moralidade, tem de explicar por que é que os magistrados continuam a não pagar impostos sobre uma parte significativa das suas retribuições; tem de explicar por que é que recebem mais de sete mil euros por ano como subsídio de habitação; tem de explicar por que é que essa remuneração está isenta de tributação, sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente os impostos sobre o trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros nos apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção, nos cheques-dentista para crianças e — pasme-se — no complemento solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já não podem deslocar-se, alimentar-se nem fazer a sua higiene pessoal.
 
O primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que é que os juízes e os procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, além de todas aquelas regalias, ainda têm o privilégio de receber ajudas de custas (de montante igual ao recebido pelos membros do Governo) por cada dia em que vão aos respetivos tribunais, ou seja, aos seus locais de trabalho.
 
Se o não fizer, ficaremos todos, legitimamente, a suspeitar que o primeiro-ministro só mantém esses privilégios com o fito de, com eles, tentar comprar indulgências judiciais.»
"A vida corre atrás de nós para nos roubar aquilo que em cada dia temos menos."


 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os fantasmas

Esta coisa de escrever crónicas "é um jogo permanente entre o estilo e a
substância”. Uma luta entre “o deboche estilístico” do gozo da escrita e “a frieza
analítica” do pensamento do cronista. Por isso, enquanto cidadão, posso ver
este governo como uma verdadeira praga bíblica que caiu sobre um povo que o
não merecia. Mas, enquanto cronista, encaro- o como uma dádiva dos céus, um
maná dos deuses, “um harém de metáforas”, uma verdadeira girândola de
piruetas estilísticas.

Tomemos como exemplo o ministro Gaspar. Licenciado e doutorado em
Economia, fez parte da carreira em Bruxelas onde foi director do Departamento
de Estudos do BCE. Por cá, passou pelo Banco de Portugal, foi chefe de gabinete
de Miguel Beleza e colaborador de Braga de Macedo. É o actual ministro das
Finanças. Pois bem. O cronista olha para este “talento” e que nele? Um
retardado mental? Uma rábula com olheiras? Um pantomineiro idiota? Não me
compete, enquanto cidadão, dar a resposta. Mas não posso deixar de referir a
reacção ministerial à manifestação de 15 de Setembro que, repito, adjectivava os
governantes onde se inclui o soporífero Gaspar, como “gatunos, mafiosos,
carteiristas, chulos, chupistas, vigaristas, filhos da puta”.

Pois bem. Gaspar afirmou na Assembleia da República que o povo português, este mesmo povo
português que assim se referia ao seu governo, “revelou-se o melhor povo do
mundo e o melhor activo de Portugal”! Assumpção autocrítica de alguém que
também é capaz de, lucidamente, se entender, por exemplo, como um “chulo” do
país? Incapacidade congénita de interpretar o designativo metafórico de “filhos
da puta”? Não me parece. Parece- me sim um exercício de cinismo, sarcástico e
obsceno, de quem se está simplesmente “a cagar” para o povo que protesta. A ser
assim, julgo como perfeitamente adequado repetir aqui uma passagem de um
texto em forma de requerimento “poético” de 1934. Assim: “A Nação confiou- -
lhe os seus destinos?... / Então, comprima, aperte os intestinos. / Se lhe escapar
um traque, não se importe… / Quem sabe se o cheirá- lo nos sorte? / Quantos
porão as suas esperanças / Num traque do ministro das Finanças?... / E quem
viver aflito, sem recursos / não distingue os traques dos discursos.”

Provavelmente o sr. ministro desconhecerá a história daquele gajo que era tão
feio, tão feio, que os gases andavam sempre num vaivém constante para cima e
para baixo, sem saber se sair pela boca se pelo ânus, dado que os dois orifícios
esteticamente se confundiam. Pois bem. O sr. ministro é o primeiro, honra lhe
seja concedida, que confunde os traques com os discursos. Os seus. Desta vez,
o traque saiu-lhe pelo local de onde deveria ter saído o discurso! Ou seja e
desculpar-me-ão a grosseria linguística, em vez de falar, “cagou-se”. Para o povo
português. Lamentavelmente.Outro exemplar destes políticos que fazem as delícias de um cronista é Cavaco Silva.


Cavaco está politicamente senil. Soletra umas solenidades de circunstância,
meia-dúzia de banalidades e, limitado intelectualmente como é, permanece
“amarrado à âncora da sua ignorância”. neste contexto se compreende o
espanto expresso publicamente com “o sorriso das vacas”, as lamúrias por uma
reforma insuficiente de 10 mil euros mensais, a constante repetição do “estou
muito preocupado” e outros lugares-comuns que fazem deste parolo de
Boliqueime uma fotocópia histórica de Américo Tomás, o almirante de Salazar.
o escrevi aqui várias vezes. Na cabeça de Cavaco reina um vácuo absoluto. Pelo
que, quando fala, balbucia algumas baboseiras lapalicianas reveladoras de quem
não pode falar do mundo complexo em que vivemos com a inteligência de um
homem de Estado. Simplesmente porque não a tem. Cavaco é uma irrelevância
de quem nada a esperar, a não ser afirmações como a recentemente proferida
aquando das comemorações do 5 de Outubro de que “o futuro são os jovens
deste país”! Pudera! Cavaco não surpreenderia ninguém se subscrevesse por
exemplo a afirmação do Tomás ao referir- se à promulgação de um qualquer
despacho número cem dizendo que lhe fora dado esse número “não por acaso
mas porque ele vem não sequência de outros noventa e nove anteriores…” Tal e
qual.

Termino esta crónica socorrendo- me da adaptação feliz de um aforismo do
comendador Marques de Correia e que diz assim: “Faz de Gaspar um novo
Salazar, faz de Cavaco um novo Tomás e canta ó tempo volta para trás”. É que
falta mesmo isso. Que o tempo volte para trás. Porque Salazar e Tomás os
temos por cá.

P.S.: Permitam-me a assumpção da mea culpa. Critiquei aqui violentamente José
Sócrates. Mantenho o que disse. Mas hoje, comparando-o com esse garotelho
sem qualquer arcaboiço para governar chamado Passos Coelho, reconheço que é
como comparar merda com pudim. Para Sócrates, obviamente, a metáfora do
pudim. Sinceramente, nunca pensei ter de escrever isto.

Luís Manuel Cunha
Professor
In “Jornal de Barcelos” de 10.10.2012

sábado, 19 de janeiro de 2013

Recado a Rabitt


Conclusões mais óbvias? eram difíceis!... DOMINGOS FREITAS DO AMARAL (jornalista e escritor) Já leram o memorando da troika? Sim, é a minha pergunta de hoje: já leram o memorando de entendimento com a troika, assinado por Portugal em Maio de 2011? Eu li, e em pé de página deixo o link para quem o quiser consultar, na sua tradução oficial.

 São 35 páginas, escritas num português desagradável e tecnocrático, que têm servido a este governo para justificar tudo. Ainda ontem, com descaramento, um dirigente do PSD dizia que "este não era o Orçamento do PSD, mas sim da troika"! Ai sim? Então eu proponho a todos um breve exercício de leitura. Tentem descobrir, lendo o memorando, onde é que lá estão escritas as 4 medidas fundamentais pelas quais este governo vai entrar para história de Portugal! Sim, tentem descobrir onde é que lá está escrito que se deve lançar uma sobretaxa no subsídio de Natal de todos os portugueses (decidida e executada em 2011); cortar os subsídios aos funcionários públicos e pensionistas (decidido e executado em 2012); alterar as contribuições para a TSU (anunciada e depois retirada em Setembro); ou mexer nas taxas e nos escalões do IRS, incluindo nova sobretaxa (anunciados no Orçamento para 2013), e definidos pelo próprio ministro das Finanças como "um aumento enorme de impostos"? Sim, tentem descobrir onde estão escritas estas 4 nefastas medidas e verão que não estão lá, em lado nenhum. 

Ao contrário do que este Governo proclama, estas 4 medidas, as mais graves que o Governo tomou, não estão escritas no "memorando com a troika"! Portugal nunca se comprometeu com os seus credores a tomar estas 4 medidas! Elas foram, única e exclusivamente,
"iniciativas" do Governo de Passos Coelho, que julgava atingir com elas certos objectivos, esses sim acordados com a "troika". Porém, com as suas disparatadas soluções em 2011 e 2012, o Governo em vez de melhorar a situação piorou-a. Além de subir o IVA para vários sectores chave, ao lançar a sobretaxa e ao retirar os subsídios, o Governo expandiu a crise económica, e acabou com menos receita fiscal e um deficit maior do que tinha. Isto foi pura incompetência, e não o corolário de um "memorando de entendimento" onde não havia uma única linha que impusesse estes caminhos específicos! 

Mais grave ainda, o Governo de Passos e Gaspar, sem querer admitir a sua incúria, quer agora obrigar o país a engolir goela abaixo "um enorme aumento de impostos", dizendo que ele foi imposto pela "troika". Importa-se de repetir, senhor Gaspar? É capaz de me dizer onde é que está escrito no "memorando de entendimento" que em 2013 o IRS tem de subir 30 por cento, em média, para pagar a sua inépcia e a sua incompetência? Era bom que os portugueses aprendessem a não se deixar manipular desta forma primária. 

Foram as decisões erradas deste Governo que, por mais bem intencionadas que fossem, cavaram ainda mais o buraco onde já estávamos metidos. E estes senhores agora, para 2013, ainda querem cavar mais fundo o buraco, tentando de caminho deitar as c0517.pdfulpas para a "troika"? Só me lembro da célebre frase de Luís Filipe Scolari: "e o burro sou eu?" Para ler o memorando vá a: http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_2011

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


Querem melhor receita para sobrevivermos a 2013 ?!...

PROPOSTAS DE ALTERNATIVA à austeridade, que tudo está a mirrar, isto no que toca a CORTE DE DESPESA nas ditas gorduras.
Por isso:
- Reduzam 50% do Orçamento da Assembleia da República e vão poupar +- 43.000.000,00€
- Reduzam 50% do Orçamento da Presidência da República e vão poupar +- 7.600.000,00€
- Cortem as Subvenções Vitalícias aos Políticos deputados e vão poupar +- 8.000.000,00€
- Cortem 30% nos vencimentos e outras mordomias dos políticos, seus assessores, secretários e companhia e vão poupar +- 2.000.000.00€
- Cortem 50% das subvenções estatais aos partidos políticos e pouparão +- 40.000.000,00€.
- Cortem, com rigor, os apoios às Fundações e bem assim os benefícios fiscais às mesmas e irão poupar +- 500.000.000,00€.
- Reduzam, em média, 1,5 Vereador por cada Câmara e irão poupar +- 13.000.000,00€
- Renegociem, a sério, as famosas Parcerias Público Privadas e as Rendas Energéticas e pouparão + 1.500.000.000,00€.

Só aqui nestas “coisitas”, o país reduz a despesa em mais de 2 MIL e CEM MILHÕES de Euros.

Mas nas receitas também se pode melhorar e muito a sua cobrança.
- Combatam eficazmente a tão desenvolvida ECONOMIA PARALELA e as Receitas aumentarão mais de 10.000.000.000,00€
- Procurem e realizem o dinheiro que foi metido no BPN e encontrarão mais de 9.000.000.000,00€
- Vendam 200 das tais 238 viaturas de luxo do parque do Estado e as receitas aumentarão +- 5.000.000,00€
- Façam o mesmo a 308 automóveis das Câmaras, 1 por cada uma, e as receitas aumentarão +- 3.000.000,00€.
- Fundam a CP com a Refer e outras empresas do grupo e ainda com a Soflusa e pouparão em Administrações +- 7.000.000,00€

Nestas “coisitas” as receitas aumentarão cerca de VINTE MIL MILHÕES DE EUROS, sendo certo que não se fazem contas à redução das despesas com combustíveis, telemóveis e outras mordomias, por força da venda das viaturas, valores esses que não são desprezíveis.
Sendo assim, é ou não possível, reduzir o défice, reduzir a dívida pública, injetar liquidez na economia, para que o país volte a funcionar?

Há, ou não HÁ, alternativas?


sábado, 5 de janeiro de 2013

Um banco do estado


ESTA  VALE A PENA DIVULGAR!!!  é uma verdadeira 
vergonha...batendo as asas pela noite calada... vêm em bandos,
com pés de veludo...» Os Vampiros do Século XXI: 


        A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos 
seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer 
corar de vergonha os administradores - principescamente 
pagos - daquela instituição bancária.  
       A carta da CGD começa, como mandam as boas regras 
de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em 
oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço 
qualidade em toda a gama de prestação de serviços, 
incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas 
contas à ordem.     
         As palavras de circunstância não chegam sequer a
suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo 
parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de 
contas, o estimado/a cliente é confrontado com a 
informação de que, para continuar a usufruir da isenção da
comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada 
trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito 
de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à 
respectiva conta.  
     Ora sucede que muitas contas da CGD,designadamente 
de pensionistas e reformados, são abertas por imposição 
legal.  
      É o caso de um reformado por invalidez e quase 
septuagenário, que sobrevive com uma pensão de 
EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário 
de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi 
forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da 
Segurança Social para receber a reforma.  
     Como se compreende, casos como este - e muitos são 
os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - 
não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela 
CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de 
manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir 
para acolher a sua miséria.  
     O mais escandaloso é que seja justamente uma 

instituição bancária que ano após ano apresenta lucros 
fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo 
quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar 
Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver 
que contribua para engordar os seus lautos proventos.  
      É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa,
como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a 
pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.  
     Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos 
servem sob a capa da democracia, em que até a esmola
paga taxa.  
     Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer 
resquício de decência, com o único objectivo de acumular 
mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.  
     Medita e divulga... Mas divulga mesmo por favor...  
Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca vergonha que 
nos atira para a miserabilidade social.