sexta-feira, 24 de agosto de 2012



Amor fraterno

O tipo de amor mais fundamental, subjacente a todos os outros tipos de amor, é o amor fraterno. Este termo refere-se ao sentido de responsabilidade, de cuidado, de respeito e de conhecimento de outro ser humano, ao desejo de prolongar a sua vida.

Este é o tipo de amor de que fala a Bíblia quando diz, “ama o próximo como a ti mesmo”. O amor fraterno é o amor para dos seres humanos; é caraterizado exatamente pela sua falta de exclusividade: se eu deixar de amar os meus irmãos. No amor fraterno experimenta-se a união com todos os homens, a solidariedade humana, a comunhão humana. O amor fraterno baseia-se na experiencia de que todos somos um só. A diferença de talentos inteligência e conhecimento é coisa de somenos importância quando comparada com a identidade essencial que é comum a todos os seres humanos. Para experimentar esta identidade é necessário ultrapassar a superfície e atingir o essencial, o centro. Se eu vir outra pessoa sobretudo a superfície, vou-me aperceber mais rapidamente das diferenças, daquilo que nos separa. Se eu chegar ao essencial, ao centro do seu ser, apercebo-me da nossa identidade, da nossa irmandade. Esta relação entre centros, e não entre superfícies, é o que podemos designar por “ relação central”. Ou como Simone Weil o exprimiu de forma tão bela: As mesmas palavras por exemplo, de um homem a dizer ”eu amo-te à mulher" podem ser vulgares ou extraordinárias, dependendo da maneira como forem ditas. E esta forma depende da profundidade daquela região do ser humano de onde vêm, sem que a vontade as possas impedir. E por um maravilhoso acordo, elas atingem a mesma região em que as escuta. E o ouvinte pode discernir, se tiver algum poder de discernimento, o valor destas palavras.

O amor fraterno é o maior entre iguais, mas na verdade, mesmo como iguais nunca somos ”iguais”; enquanto seres humanos precisamos sempre de ajuda. Hoje, eu, manhã tu. Mas esta necessidade de ajuda não significa que um seja indefeso e o outro poderoso: estar indefeso é uma condição passageira; a capacidade de se erguer e de caminhar sem ajuda é a condição permanente e mais comum.
Contudo, o amor pelos indefesos e o maior pelos pobres e pelos desconhecidos é o princípio do amor fraterno. Não é uma grande conquista amar os que são carne da nossa carne. O animal ama as suas crias e cuida delas. A pessoa indefesa ama o seu mestre. Já que sua vida depende dele. A criança ama os seus pais, porque precisa deles. Só no amor daqueles que não nos servem para atingir um determinado objetivo é que o amor começa a florescer. De forma significativa, no Antigo Testamento, os objetos centrais do amor do homem são os pobres, os estrangeiros, os viúvos e órfãos, e mais tarde, os inimigos nacionais, os Egípcios e os edomitas. Na compaixão por aquele que está indefeso, o homem começa a desenvolver o amor pelo seu irmão; e no seu amor-próprio ama também aquele que precisa de ajuda, o ser humano frágil e inseguro. A compaixão implica em elemento de conhecimento e de identificação. “Vós conheceis os corações do estrangeiro”, diz o Antigo Testamento, “porque fostes estrageiros na terra do Egipto;…portanto, amai os estrageiros!

Erich Fromm (in A arte de amar)


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